Alto custo dificulta acesso de motociclistas a equipamentos de segurança
Equipamentos de segurança para motociclistas podem ser decisivos em uma situação de vida ou morte. São eles que protegem o piloto em caso de queda ou colisão. Embora sejam essenciais para a segurança do condutor e do passageiro, esses itens são praticamente inacessíveis à grande parte dos profissionais que utilizam a moto como instrumento de trabalho. Um kit composto por capacete, jaqueta, luvas e botas de qualidade intermediária chega a custar cerca de 20% do valor de uma Honda CG, modelo mais vendido no país.
É exatamente com uma Honda CG que o motofretista Fernando Gregório da Silva roda todos os dias pela capital paulista. O trabalho é uma espécie de bico que ele faz para complementar a renda que ganha com sua verdadeira profissão, a de frentista. Com o extra, ele chega a tirar R$ 1.000 mensais. Desta quantia, R$ 70 foram destinados à compra de um capacete. A jaqueta foi arrematada em uma loja de departamento comum, por R$ 80, assim como o jeans e os calçados, tão banais que ele nem se lembra da aquisição. "Eu sei que tem de usar uma jaqueta com proteção, mas é muito cara, eu não pago. Com o capacete e a calça eu me dei mal. Caí há umas duas semanas na Marginal Pinheiros, o capacete rachou na pancada e a calça rasgou, fiquei com a perna ralada. Agora, vou comprar um capacete melhorzinho porque vale a pena", conta. "Mas é difícil, porque se eu fosse comprar tudo de primeira linha, iria gastar todo meu salário. Aí não dá, né?", questiona.
De acordo com o gerente do Centro Educacional de Trânsito Honda, José Luiz Terwak, se a intenção é trafegar dentro da cidade, não é preciso optar pelos equipamentos mais caros, como macacões. "Dá para ficar bem protegido gastando relativamente pouco. O essencial é usar capacete, uma jaqueta com protetores para as articulações e costas, calças com joelheiras e um calçado que fique acima do tornozelo", indica.
O capacete, segundo o especialista, merece atenção especial. "Independente da marca, escolha um que fique bem preso na cabeça. Não adianta comprar com folga ou muito apertado. O ideal é escolher um modelo de material mais resistente e respeitar o prazo de validade. Se cair, também é rescomendável adquirir outro", avalia. Para Silva, é impossível seguir essas orientações: "Imagina se a cada quedinha eu comprasse outro capacete? Iria à falência", critica ele, sem perder o bom-humor.
Freios ABS
Os freios ABS, já obrigatórios para os carros, também é um item essencial para a segurança do motociclista, mas está longe de equipar a maioria da frota brasileira. Até julho do ano passado, o ABS era oferecido em apenas 23% dos modelos à venda no Brasil, segundo estudo divulgado pelo Cesvi – todas elas acima de 250 cc.
Tramita na Câmara um projeto de lei que propõe que as motos saiam de fábrica equipadas com freios ABS, a exemplo da Europa, onde o sistema será obrigatório a partir de 2016 nas motos acima de 125 cc. De acordo com o deputado Adrian Mussi, autor da proposta, o equipamento é “um item importante para a redução de fatalidades, embora possa tornar as motos mais caras”. O valor do freio varia, mas pode sair por mais de R$ 4 mil – o mesmo preço de uma moto popular.
Causa dos Acidentes
Em 2011, 11.433 pessoas perderam suas vidas em acidentes envolvendo motos. O número é o mais recente apurado pelo Ministério da Saúde e pode ser maior este ano, já que desde 2001 o índice de ocorrências fatais no mundo das duas rodas não para de crescer. Apenas nesse período de dez anos, a alta foi de assustadores 263%. Um estudo realizado em 2013 pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo tentou descobrir o que estava por trás da estatística. O resultado aponta para falha humana.
Segundo a pesquisa, 51% dos acidentes analisados foram causados por outros veículos e 49% pelos próprios motociclistas. Destes últimos, 33% haviam tirado a habilitação há menos de quatro anos e 23% pilotavam sem habilitação. Imprudência foi a causa apontada para a maioria dos casos. A pesquisa do HC abrangeu apenas dados da capital paulista. Em escala nacional, não há nenhum estudo que elucide o assunto.
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